Disseram-me que parasse, parasse
porque o movimento cansa.
Eu não quis parar
e caminhei na estrada
meus passos de esperança.
Disseram-me que chorasse, chorasse
porque a vida é dor.
Eu desatei a rir, a rir
como homem que endoidece
e cantei na estrada um canto libertador.
Disseram-me que fugisse, fugisse
porque a vida é tédio
e a rosa se floresce também murcha.
Quiseram vendar-me os olhos
para que eu não viesse, não viesse
Mas nos meus pés tinha olhos
e caminhei na estrada meus passos de esperança
até que esses olhos furaram a treva
até que entraram pelos tempos fora.
E tão perto de mim, tão perto de mim
como se fosse agora
eu vi as crianças louras
abrirem os braços aos meninos negros.

Vasco Cabral

Guiné-Bissau

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