Quem morre?

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is"
em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos
dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se
da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

História do Sr. Mar

Deixa contar...
Era uma vez
O senhor Mar
Com uma onda...
Com muita onda...

E depois?
E depois...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
E depois...

A menina adormeceu
Nos braços da sua Mãe...

Loas à Chuva e ao Vento

Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue...Pingue...Pingue...
Vu...Vu...Vu...

Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue...Pingue...Pingue...
Vu...Vu...Vu...

Ó vento que vais,
Vai devagarinho.
Ó chuva que cais,
Mas cai de mansinho.
Pingue...Pingue...
Vu...Vu...

Muito de mansinho
Em meu coração.
Já não tenho lenha,
Nem tenho carvão...
Pingue...Pingue...
Vu...Vu...

Que canto tão frio
Que canto tão terno,
O canto da água,
O canto do Inverno...
Pingue...

Que triste lamento,
Embora tão terno,
O canto do vento,
O canto do Inverno...
Vu...

E os pássaros cantam
E as nuvens levantam!

Matilde Rosa Araújo, O Livro da Tila

Espaço Curvo e Finito

Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças
E ausências.

Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe;
Um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer.

A semente que de ser, se surpreende;
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti

José Saramago

Credo do Contador

Creio no contador, como memória viva do amor e creio em seu filho e no filho de seu filho, porque eles são a estirpe da voz, os criadores da voz das vozes.

Creio no contador, concebido nos espelhos da água, nascido humilde, tantas vezes ignorado, porém nunca morto, porque sempre esteve entre os vivos congregando-os a ser: xamã, fabulista, guardião de experiências e memórias...

Creio na magia do contador que, desde os tempos tribais, acendeu na entrada das cavernas o primeiro fogo, reunindo em seu torno as estrelas, o assombro, o espanto, o tremor, a fé.

Creio nas suas mentiras fabulosas que escondem fabulosas certezas, no prodígio da sua imaginação que vaticina realidades insuspeitas, e também creio na fantasia das verdades e nas verdades da fantasia, por isso creio nas sete léguas das botas, na galinha dos ovos de ouro, e no gato único no mundo que ria do outro lado do espelho.

Creio nos contos que ouvi à minha mãe, como a minha mãe acreditou nos contos da minha avó, como a minha avó acreditou nos contos da minha bisavó e recordo a voz que me contava para afastar a enfermidade e o medo, a voz que recordava os conselhos entesourados que se passam de geração em geração.

Creio no direito de todas as crianças ouvirem contos; creio no direito das crianças que vivem nos adultos voltarem a ouvir contos; e mais, creio na responsabilidade de todos os adultos em ouvirem, inventarem e reinventarem contos.

Creio no gesto que conta porque na sua mão despojada está a história universal que vive em todo e qualquer ser humano. Creio no poder do conto e da poesia porque sem eles não haveria mundo, nem este seria reinventado, reorganizado e traduzido à medida de todos nós.

E porque creio...conto.

Creio que contar é defender a sabedoria, a ingenuidade e a força da indagação.

Creio que contar é partilhar a confiança, a vida, o poder, a beleza e a magia que desde sempre vive em nós. Creio que contar é tornar mais transparente a divindade nos homens.

E é por tudo isto que creio que contar É AMOR.

Adaptação do texto «Credo do Narrador Oral» de Garzón Céspedes

in O Quarto da Lua

Poema ao Pai

Ter um Pai! É ter na vida
Uma luz por entre escolhos;
É ter dois olhos no mundo
Que vêem pelos nossos olhos!

Ter um Pai! Um coração
Que apenas amor encerra,
É ver Deus, no mundo vil,
É ter os céus cá na terra!

Ter um Pai! Nunca se perde
Aquela santa afeição,
Sempre a mesma, quer o filho
Seja um santo ou um ladrão;

Talvez maior, sendo infame
O filho que é desprezado
Pelo mundo; pois um Pai
Perdoa ao mais desgraçado!

Ter um Pai! Um santo orgulho
Pró coração que lhe quer
Um orgulho que não cabe
Num coração de mulher!

Embora ele seja imenso
Vogando pelo ideal,
O coração que me deste
Ó Pai bondoso é leal!

Ter um Pai! Doce poema
Dum sonho bendito e santo
Nestas letras pequeninas,
Astros dum céu todo encanto!

Ter um Pai! Os órfãozinhos
Não conhecem este amor!
Por mo fazer conhecer,
Bendito seja o Senhor!

Florbela Espanca

Mais poemas aqui.

"Gotta Keep Reading"

Letra alternativa do sucesso "I Gotta Feeling" dos Black Eyed Peas, pela escola Ocoee Middle School - Orange County, Florida, EUA.
Vídeo gravado em Dezembro de 2009, por 1600 alunos.



Gotta Keep Reading

Nicole Nasrallah, Janet Bergh
Ocoee Middle School

© 2009 Based on “I Gotta Feelin’ ”
By The Black-Eyed Peas
(used by Permission)

Gotta Keep Reading
Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good good
book to read

Ooo hoo

Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good good
book to read

Pick up that book
And turn the page
You’ll never know
Just what you’ll find

Information
Or Fantasy
Drama and Art
All make you smart!

I know that you’ll have a ball
If you turn off the TV and just read them
all
Just think, with a book you’ll be so
entertained
OMS has the best readers in F.L.A

Fill up my mind
With non fiction
Let’s get the facts
And use them up

Collaborate
Graduate
Feed your brain
And then we’ll just keep on reading

And reading and reading and reading and
reading
And reading and reading
Lets read it some more
Reading and reading and reading reading
reading
Keep reading and reading and reading

Gotta Keep Reading

Ooo hoo

Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good good
book to read

Ooo hoo

Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good good
book to read

I got my book!
Do you have yours?
What is the title?
And who’s it by?

Where is it set?
Maybe in Spain?
Is it fiction?
Or is it real?

Will it be happy?
Or maybe sad?
Let’s see what happens
By reading on

Open that book
And have a look
It’s an adventure
So keep on reading that book

Keep reading and reading and reading and
reading
And reading and reading
lets read it some more
Read it and read it and read it read it read
it
And read it and read it and read it read it
read it read it

Here we come, here we go we gotta read
(read read read)
Easy come easy go now we can’t stop
Fill that shelf with those books
Way to the top
Round and round
Read those books
Around the clock

Action, Sci-Fi, Humor, Adventure
Biography, Reality, Mystery and Fantasy

Read read read read read it up
What ever you like
Read those Sunshine States
Take those Reading Counts

Gotta Keep Reading

Ooo hooo

Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good good
book to read

Ooo hoo

Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good book
Cause this book’s gonna be a good good
book!

Ohh hoo…..

Mais sobre a semana da leitura em O berlinde do Janica

Fonte: Bibliotequices

Letra da Música

Israel

Caminhar! caminhar!... O deserto primeiro,
O mar depois... Areia e fogo... Foragida,
A tua raça corre os desastres da vida,
Insultada na pátria e odiada no estrangeiro!


Onde o leite, onde o mel da Terra Prometida?
- A guerra! a ira de Deus! o êxodo! o cativeiro!
E, molhada de pranto, a oscilar de um salgueiro,
A tua harpa, Israel, a tua harpa esquecida!


Sem templo, sem altar, vagas perpetuamente.
E, em torno de Sião, do Líbano ao mar Morto,
Fulge, de monte em monte, o escárnio do Crescente:


E, impassível, Jeová te vê, do céu profundo,
Náufrago amaldiçoado a errar de porto em porto,
Entre as imprecações e os ultrajes do mundo!

Olavo Bilac
"...Lisboa, Santarém, Porto, Leiria..."
(eu sabia de cor toda a geografia)
O Senhor Inspector
deu-me a nota mais alta em geografia
e disse gravemente:
- "Continua. Hás-de ser gente..."
"Ângulo recto, agudo,
cateto, hipotenusa...
(já manchara de giz a minha blusa
mas respondia a tudo
e a professora sorria
enquanto eu papagueava a geometria)
"...D.Sancho, o Povoador...
D.Dinis, o Lavrador...
(Tinha então boa memória,
sabia as datas da história...)
1580
1640
1143
em Arcos de Valdevez...
(Muito bem, sim senhor!
A pequena é simpática)
E depois, em voz alta, o senhor Inspector:
- Vamos à gramática." -
"...E, nem, não só, mas também...
conjunções copulativas"
(Eu pensava na alegria
que ia dar a minha mãe,
nas frases admirativas
da velha D.Maria,
a minha primeira mestra:
- Tão novinha e ficou "bem"!" -
e esta suavíssima orquestra
acompanhava em surdina
o meu primeiro exame de menina
aplicada, orgulhosa e inteligente...)
- "Vá ao quadro, menina! Docilmente
fiz os problemas, dividi fracções,
disse as regras das quatro operações
e finalmente
O Senhor Inspector felicitou-me,
quis saber o meu nome
e declarou-me
que ficara "distinta" sem favor.
Ah! que esplendor!
Que alegria total e sem mistura,
que orgulho, que vaidade!
Olhei de frente o sol e a claridade
não me cegou, julguei-a quase escura...
As estrelas, fitei-as como iguais.
Melhor: como rivais...
E a Humanidade
pareceu-me um rebanho sem vontade,
uma vasta colónia de formigas...
(As minhas pobres, tímidas amigas!)
Pouco depois, em casa, a testa em fogo, o olhar em brasa,
gritei num desafio
à terra, ao céu, ao mar, ao rio:
- "O mãe, eu já sei tudo!"
No seu olhar tranquilo de veludo,
no seu olhar profundo,
que era todo o meu mundo,
passou uma ironia tão velada,
uma ironia
tão funda, tão calada,
que ainda hoje murmuro cada dia:
"-O mãe, eu não sei nada!..."


de Fernanda de Castro in Trinta e nove poemas (1941)

Desconfianças

Dois homens cruzam-se na rua.
Um diz para o outro: - "Olá, Sr. Passos!"
O outro, surpreendido e desconfiado, pergunta para si próprio. -
"Passos"?
Porque é que ele me chamou por um nome que não é o meu?
Será que ele se quer meter comigo?
Deixa cá ver...

Paços... do concelho
Conselho... de ministros
Ministro... da guerra
Guerra... Junqueiro
Junqueiro... Alcântara
Alcântara... mar
Mar... pescada
Pescada... do alto
Do alto... da serra
Da Serra... da Estrela
Da estrela... do céu
Do céu... azul
Azul... tinta
Tinta... para escrever
Escrever... para França
De França... vêm os meninos
Os meninos bebem... leite
O leite... vem da vaca
A vaca... é a fêmea do boi...
"Boi!!!
Ah! O que o sacana me chamou!..."